João Carlos Louçã
João Carlos Louçã é Licenciado (1997) e Mestre (2013) em Antropologia pela Faculdades de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Em 2019 concluiu o doutoramento em Antropologia, pela mesma faculdade, na especialidade "Poder, Resistência e Movimentos Sociais" com a dissertação "Pensar o Impossível, Transformar a Realidade - a prática da utopia concreta no Porto e Pirenéus". Membro da Red(e) Iberoamericana Resistencia y/e Memoria (RIARM), do grupo de trabalho sobre tempo e temporalidades do Concelho Latino Americano de Ciências Sociais (CLACSO), do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho da FCSH-NOVA. É investigador no Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta. Publicou recentemente em co-autoria, "Quando a História Acelera. Resistência, Movimentos Sociais e o Lugar do Futuro" (IHC, 2021), "African Forced Labour and Anti-colonial Struggles in the Portuguese Revolution" (Brill, 2020), "Entre Outubro e Abril" (Húmus, 2018). É autor de "Pensar a utopia, transformar a realidade. Praticas concretas" (Parsifal, 2021) e "Call Centers: trabalho, domesticação e resistência" (Deriva, 2014). É ainda autor de oito artigos em revistas especializadas e possui treze capítulo de livros. Desde julho de 2023 assume as funções de produtor executivo de Workers of the World. International Journal on Strikes and Social Conflicts.
ARTIGO
A BOLSA DE BIELSA E OUTRAS HISTÓRIAS PARA ESPREITAR O FUTURO
Questionando o Iluminismo na sua premissa da existência de uma Razão universal que Eric Wolf abordou em pormenor (1999) ou ainda daquilo que Sahlins chamou de “ilusão ocidental da natureza humana” (2011), a Antropologia pode ter no futuro um campo signi cativo para pensar o mundo em que vivemos. No capitalismo de vocação universal que o neoliberalismo conseguiu impor, a naturalização das ideias que o justi cam fazem parte de uma corrente hegemónica que transforma a ideologia neoliberal numa condição da natureza humana. As culturas de resistência são assim uma condição para pensar práticas contra-hegemónicas, ou simplesmente realidades sociais que escapam ainda à expropriação de bens comuns, à privatização do futuro enquanto espaço de desejo e de imaginação coletiva.
ARTIGO
Do otimismo da vontade às possibilidades em curso
A crise financeira internacional com início em 2008 contribuiu decisivamente para contrariar a
ideia-força do período anterior de que as classes sociais se desvaneceriam face ao mérito individuale a mobilidade social seria um adquirido da sociedade contemporânea. Esta ideia, sustentáculo do capitalismo tardio na sua versão neoliberal, revelou-se desajustada como justificação para o que estava a acontecer com as economias, os empregos e os serviços públicos em processo de desagregação. Marx ressurgiu com estrondo, e com ele a luta de classes, as próprias classes e o seu conflito insanável constituíram uma explicação mais plausível para a realidade.
ideia-força do período anterior de que as classes sociais se desvaneceriam face ao mérito individuale a mobilidade social seria um adquirido da sociedade contemporânea. Esta ideia, sustentáculo do capitalismo tardio na sua versão neoliberal, revelou-se desajustada como justificação para o que estava a acontecer com as economias, os empregos e os serviços públicos em processo de desagregação. Marx ressurgiu com estrondo, e com ele a luta de classes, as próprias classes e o seu conflito insanável constituíram uma explicação mais plausível para a realidade.
ARTIGO
Dominação e modernidade regressiva call centers e trabalho em Portugal
Este artigo aborda o setor dos call centers em Portugal, as suas formas de organização de trabalho no quadro da precariedade como fenómeno generalizado. A construção de consensos capazes de garantir processos de funcionamento em que trabalhadores e trabalhadoras, progressivamente adquirem estatuto de “colaboradores”, tornando mais frágil o seu vínculo formal com as entidades empregadoras, é potenciado pela hegemonia do discurso do mérito individual e da flexibilidade. Por outro lado, a globalização capitalista assegura uma rede de relações em que a origem do capital se encontra desfocada por uma realidade em que o trabalhador se encontra a trabalhar através de empresas intermediárias e onde quem tem o poder real dentro de um call center não é nunca o empregador. Clientes confundem-se com patrões numa confusão de papéis que protege o capital e torna o trabalho mais dependente, retirando-lhe capacidade de luta e transformando o conflito de classes num jogo de sombras.
ARTIGO
Futuros inquietos, práticas contra-hegemónicas a partir da crise e alguns dos seus fundamentos teóricos
Trinta anos depois de Margaret Tatcher ter anunciado “there is no such thing as society”, o mundo em que vivemos parece querer dar-lhe razão. De crise em crise, a economia liberal parece ter conquistado a hegemonia absoluta. O capitalismo na sua fase tardia, parece consolidar-se pelos quatro cantos do mundo. A acumulação de capital conquista incessantemente mercados, a desigualdade garante muitas das guerras da actualidade que por sua vez fazem florescer negócios e respectivos negociantes. Mas a análise global, pessimista por circunstância, deixa inevitavelmente de fora muitos dos aspectos que também caracterizam este tempo.
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Gonçalves Correia, a revolução através de um anarquista alentejano singular
A crise financeira internacional com início em 2008 contribuiu decisivamente para contrariar a Reza a lenda que Lenine dançou na neve do Kremlin ao 73º dia em que sobrevivia o governo soviético e com ele a revolução. Nesse passo de dança estaria a evocação da Comuna de Paris, violentamente terminada nesse intervalo de tempo e que marcou a experiência revolucionaria europeia da geração anterior. Lenine devia saber que ultrapassar o tempo da primavera dos communards na Paris libertada, era uma prova que ultrapassava as experiências revolucionárias anteriores e que projectava a revolução de outubro para o futuro. Desse momento para a frente, nenhuma outra experiência de revolução proletária tinha aguentado tanto tempo como a soviética.
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African Forced Labour and Anti-Colonial Struggles in the Portuguese Revolution
The Portuguese Revolution took place between 25 April 1974 and 25 November 1975, and was the most profound revolutionary event in Europe following the Second World War. During those 19 months, hundreds of thousands of workers went on strike, and hundreds of workplaces were occupied; sometimes for months at a time. At some stage, almost one third of the population of about ten million people was engaged in some form of power structure outside the scope of the state, whether workers, soldiers or committees of residents. The Portuguese Revolution was such a social explosion that US president Gerald Ford considered it capable of transforming the entire Mediterranean into a “red sea” and causing the downfall of all the regimes of southern Europe like dominos.
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O COMPROMISSO DA ANTROPOLOGIA COM ESTE (E NÃO COM OUTRO) MUNDO
Em julho de 2021, ao mesmo tempo que a pandemia de Covid-19 fazia ainda vítimas e mobilizava enormes quantidades de recursos na tentativa do seu controlo, assistimos a uma inédita corrida ao espaço com alguns dos bilionários do mundo a disputarem quem seria o primeiro a estar em órbita na fotografia de fato espacial sem gravidade terrestre. Na ocasião, foi Richard Branson, o patrão do grupo Virgin, que exibiu o sorriso de ganhador e o primeiro homem de negócios a franquear as fronteiras do planeta e a poder apreciar a paisagem a partir do espaço.
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Economías de lo cotidiano, vidas más allá de la crisis fragmentos etnográficos en Porto (Norte de Portugal)
En Portugal, la idea de crisis implica un léxico muy familiar. Una idea que nunca estuvo propiamente asociada a momentos extraordinarios, a rupturas que avanzan en un imaginario cotidiano de progreso y desarrollo, por el contrario, a una inversión de ese sentido y a un salto regresivo en la historia. La crisis es, y fue, un elemento constantemente presente en la historia reciente del país. Tal vez por eso, las olas de la crisis mundial, iniciada en 2008, que atravesaron océanos y dejaron al descubierto las políticas financieras predadoras de los recursos económicos, en un primer momento, no causaron gran sorpresa o emoción. Esta vez, la culpa no fue exclusiva, sino compartida con otros países del sur de Europa. Las dificultades notables de algunos países más poderosos, dejaban un rastro de consuelo por la desgracia compartida.
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REDOL E O FUTURO QUE SEMPRE COMEÇA ATRÁS
Entre o ano do início europeu da pandemia de COVID 19 e o período em que Alves Redol viveu e escreveu, passou tanto ou mais, do que o tempo passado entre o início do século que viu a República nascer e o do escritor ribatejano que escreveu sobre a vida e o trabalho que com ela se confundia. O tempo é um estranho próximo, que se observa em camadas projetadas a partir de um ponto de observação em constante movimento, com a pessoa que o observa no seu centro e, por aí estar, nem sempre repara que também ela se move. Nos buracos negros do espaço infinito intuímos que o tempo desaparece naquilo que chamamos relatividade. Vemos planetas ou estrelas no seu brilho consistente que já não existem há muito tempo – centenas ou milhares de anos. Einstein, o estudante medíocre que foi uma das personagens geniais do século XX, dessacralizou tempo e espaço e ao fazê-lo tornou a civilização um pormenor ínfimo na vida do planeta, e este por sua vez, um ponto minúsculo do Universo que nunca conseguiremos alcançar ou entender na sua dimensão absoluta. Esta espalha-se no espaço e no tempo, ou melhor dizendo, nos tempos...
ARTIGO
Memoria de Futuro: O, después de la curva, el movimiento antimilitarista ibérico entre 1980 y 1999
El trabajo de campo con los pies en el presente etnográfico que interroga invariablemente el pasado y sus aplicaciones para vislumbrar el futuro, supone con frecuencia momentos de asombro. En la antropología que mira el tiempo que está por venir como un caleidoscopio de posibilidades a nuestra disposición, esas oportunidades sugieren conexiones entre mundos que se entrecruzan, que a veces divergen y pueden encontrarse de nuevo, trazando siempre caminos inesperados para la investigación proyectada...