Observatório

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Quem Somos

O Observatório para as Condições de Vida e Trabalho (OCVT) é um projeto transdisciplinar que agrega investigadores de diferentes áreas do conhecimento e instituições, com o objetivo de estudar o trabalho, a saúde, a educação, a habitação, o estado social, a segurança social e a dinâmica de populações. O OCVT é uma parceria de investigação que integra investigadores, entre outras, das Universidade Nova de Lisboa, Instituto Superior Técnico e Université de Paris.

Objetivo: estudos, prestação de serviços, inquéritos, Centro de Sondagens e Centro de Formação.
O OCVT realiza, para associações, ordens profissionais, sindicatos, comissões de trabalhadores e outras entidades, mediante prestação de serviços, estudos científicos no âmbito do trabalho, saúde, educação, habitação, estado social, segurança social e dinâmica de populações.


Carta de Princípios

O Observatório para as Condições de Vida e Trabalho (OCVT) é um projeto transdisciplinar que agrega investigadores de diferentes áreas do conhecimento e instituições, com o objetivo de estudar a segurança social e a dinâmica de populações, a situação do estado social (welfare state), fluxos migratórios e de força de trabalho, estudos do trabalho organizado (com destaque para o sindicalismo), saúde e sofrimento no trabalho, as políticas públicas, as conceções de cultura, o direito à cidade (transporte, infraestruturas, etc.), a história pública do mundo do trabalho, a sociabilidade humana e as chamadas questões do modo de vida, numa palavra, “o movimento social como um todo”. Queremos saber como vivem e trabalham as pessoas na atualidade e debater as suas condições.

Os colegas da psicomotricidade humana falam-nos duma nova iliteracia de coordenação motora em crianças da vaga pós-millennium, enquanto os colegas médicos alertam para a fome nutricional. O mesmo desenvolvimento capitalista que massificou os ecrãs digitais praticamente eliminou o espaço-tempo da brincadeira coletiva entre os miúdos do meio urbano e, a um só e mesmo tempo, multiplicou calorias em alimentos processados, secundarizando o repertório culinário da vida rural. A produtividade laboral aumenta exponencialmente a olhos vistos e, ainda assim, a colonização do reino da liberdade pelo reino da necessidade parece já ser a constante no quotidiano de milhões. Por outro lado, tempo livre, cultura e lazer cada vez mais estão encapsulados por uma série de mediações de segunda ordem cuja lógica não é outra senão a do fetiche da mercadoria. Todas estas questões merecem uma análise renovada.

Trata-se simultaneamente de uma aposta estratégica, um projeto integrador e uma certa objetivação duradoura – ampliada tanto no tempo histórico da longa duração quanto no espaço social, internacional – de estudos, investigações e divulgação pública, com sede em Lisboa, que inclui distintas áreas de conhecimento, de instituições académicas e de ocupações socioprofissionais em diversos países do mundo.

Aquilo que C. Wright Mills considerava “questões públicas urgentes e problemas humanos persistentes”, apesar das cores dramáticas dos séculos XX e XXI – sucessão de guerras locais e internacionais, crises económicas e políticas, convulsões sociais e culturais –, vem, por uma série de razões, escapando ao retrato das questões das universidades. O saber disciplinar das ciências históricas e sociais deve centrar-se em retornar a produção às suas fontes inspiradoras, tornando públicas questões referentes a perturbações supostamente privadas. O caminho eleito é o de reunir aquilo que o mundo do capital separou e o dito “ajuste estrutural” tenta divorciar: a ciência social, crítica e reflexiva, e os seus públicos, ativos, densos e contracorrente. As trilhas da centralidade axiológica do conhecimento produzido por quem trabalha, sobre o que trabalha, são uma aposta estratégica pela unidade de diversos: o mundo do trabalho, sindicatos, e o mundo da cultura, universidade; ciências da natureza e ciências do espírito; homo sapiens e homo faber. O projeto volta a por em cima da mesa a questão fulcral do oficio científico: para quem e para quê?

O OCVT reúne em seu redor a experiência científico social – e político pedagógica – de uma série de instituições, organizações e entidades como, por exemplo, o centro internacional Global Collaboratory for the History of Labour Relations (Amsterdão / História Social), o núcleo interdisciplinar do Observatório de História da Classe Trabalhadora (Rio de Janeiro / Ciências Sociais), membros do Laboratoire de Psychologie Clinique, Psychopathologie et Psychanalyse (Université de Paris/Psicanalise) e do Institut de Psychodynamique du Travail (Paris/Psicodinâmica do trabalho) e o Instituto Superior Técnico (Lisboa / Matemática). As respetivas equipas científicas, bem como o seu conselho consultivo, têm sede na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Univ. NOVA de Lisboa, sob a coordenação geral da Prof. Dra. Raquel Varela, a partir de onde se organizam publicações, projetos, oficinas e conferências, além de uma vasta série de diálogos globais com diversas organizações sociais, institutos culturais e equipamentos públicos da sociedade civil. Em termos organizativos e institucionais, mas também teórico-metodológicos, os protocolos, as colaborações e os convénios são anfitrionados pelo Grupo de Investigação sobre História Global do Trabalho e dos Conflitos Sociais. O grupo de HGTCS é o primeiro núcleo português de história global e também um agrupamento interdisciplinar pioneiro em história do trabalho e do movimento operário criado numa universidade portuguesa nas últimas três décadas.

A crise económica internacional de 2007 e 2008, com o seu cortejo de destruição, criou também as condições globais para o regresso do «espectro do trabalho» à academia, processo tendencial em geral, cuja refração em Portugal encontrou expressão na constituição deste Grupo de Investigação sobre História Global do Trabalho e dos Conflitos Sociais (HGTCS), criado em 2011 no seio do IHC / FCSH / UNL. A filiação à história global do trabalho não implica uma estrita adesão a um bem demarcado paradigma metodológico, antes abre espaço ao desenvolvimento geral de uma área de especialização. Possibilita-se aí a congregação de distintas escolas e tradições, mesmo sem acordo com todas as premissas avançadas. Sublinha-se a partir daí a heteronomia da composição da classe trabalhadora, o que acarreta consequências importantes, desde logo um grande aumento de escopo temporal e uma nova atitude perante as tradicionais dicotomias do espectro espacial, como trabalho livre e não-livre, remunerado e não-remunerado, organizações formais e informais, etc. Afirma-se uma nova abordagem transnacional, ou seja, internacionalista e global: renovada atenção dada às migrações laborais, às zonas de fronteira, ao chamado Sul global, à composição feminina da força de trabalho, aos trabalhadores não-livres. Estabelecem-se assim as bases para uma potencial história unificada do mundo dos trabalhadores à escala mundial nas suas múltiplas temporalidades. “Conhecemos apenas uma única ciência – a ciência da história”, afirmaram os fundadores da dialética moderna, com base no estatuto de historicidade, das ciências do espírito e da natureza. Por mais controversa que possa soar aos ouvidos contemporâneos, esta asserção pode, pelo menos, assegurar-nos terreno comum, institucional e metodológico, para a multi-, inter- e transdisciplinaridade.

O leitmotiv histórico de Públio Terêncio (185 a.C-159 a.C.) é para nós atual: nada do que é humano nos é estranho. A perspetiva de totalidade configura-se num ponto de vista para a observação do mundo social na sua totalidade: dinâmicas, estrutura, práxis e, sobretudo, o seu sistema de relações sociais. Mais do que um piedoso ideal, trata-se de uma prática efetiva que colocamos de pé desde a mais tenra infância do OCTV no seu ato de fundação.

Incorporamos por isso na nossa equipa as mais diversas disciplinas, com distintas ênfases, em objetividade e subjetividade: história, sociologia, antropologia, geografia, economia, ciências políticas, artes, filosofia, ergonomia, estética, literatura, estudos culturais, demografia, linguística, medicina, psicologia e psicanálise.

Colocamo-nos o desafio de inspiração bourdieusiana – sobretudo a partir da criação do ex-Collectif Raisons d’Agir – que visava estabelecer um índice social geral da economia política do bem-estar até à economia política da felicidade. A partir da definição, classificação e mensuração do bem-estar social em geral, bem como do corpus a partir do qual políticas públicas e direitos sociais realmente existentes são concebidos, procuramos a questão económico-social a respeito de condições de vida dignas. Mas a economia do bem-estar não é o bastante para uma vida decente no alvorecer do século XXI. As questões da redistribuição económico-social devem ser acompanhadas pari passu do tema do reconhecimento político-cultural em sentido mais amplo. Uma vida plena de sentido, no trabalho e fora dele, deve necessariamente articular a necessidade humana da busca pela felicidade geral.

O OCVT já desenvolveu até ao presente diversas trilhas para a investigação histórica crítica, desde as histórias do povo e/ou sociais de diferentes localidades do País – como Loulé, Maia, Santo Tirso, Sines, Oeiras, entre outros -, sob a inspiração das histórias do povo (história social, dos “de baixo”, etc.) de linhagem anglo-saxónica, a convite de distintas câmaras municipais, passando por importantes estudos do trabalho e do estado social (relações laborais, SNS, segurança social) até, mais recentemente, uma importante cepa de inquéritos nacionais ao mundo do trabalho a convite de diferentes ordens profissionais, federações e sindicatos, envolvendo ocupações socioprofissionais tão fundamentais quanto as dos professores, tripulantes de voo, estivadores, etc. No âmbito destes estudos ainda em curso – e com várias novas categorias de trabalhadores firmando novos protocolos, para novas pesquisas –, desenvolvemos uma conceção teórica e um conceito metodológico que, esperamos, apresente um novo curso aos tradicionais estudos sobre desgaste (burnout), risco e penosidade no trabalho.

Para além dos modelos-padrão de investigação social empírica e estudos de matriz psicométrica, colocamos em campo uma crítica metodológica em ato reflexivo que incorpora o melhor daquilo que compõe o viés da teoria crítica da sociedade e da metodologia das ciências sociais e humanas, por um lado, e por outro, entronizamos os paradigmas matemáticos dos sistemas dinâmicos e o que corresponde à análise de amostragem probabilística, numa rara combinação entre métodos quantitativos e qualitativos, ciências biológicas e históricas, as humanas e as naturais. Com os colegas da psicopatologia e psicodinâmica do trabalho e os seus complexos categoriais aprendemos o “real do trabalho” como premissa fundadora do trabalho vivo. A partir de considerações dos colegas psicanalistas enriquecemos os pressupostos relacionais da história da humanidade. Em diálogo com os geógrafos do trabalho descobrimos novas problemáticas de tempo e de lugar. E juntos pudemos chegar mais longe.

Por fim vale a pena sublinhar que em meio a esta verdadeira aventura científica de novos desafios e descobertas constantes também teve lugar uma revolução permanente e refundação da existência dos próprios cidadãos conscienciosos e cientistas comprometidos que se reencontram, no OCVT, com a fibra moral original que deu forma intelectual à crítica social e forma social à crítica intelectual a partir do engajamento no terreno do mundo do trabalho vivo. Um estilo de fazer ciência que também forjou novas formas de comunicação e expressão ligadas às mais diversas necessidades sociais e intelectivas dos públicos de grupos diversos do ser-que-trabalha. O Observatório para as Condições de Vida e Trabalho constitui assim um intelectual coletivo global. Desde a fundação do OCVT em 2015 – vinte anos após o nascimento do Collectif Raisons d’Agir – até hoje, uma série de estudos, colóquios, atividades e colaborações várias animaram este projeto.

Realizamos inúmeros seminários temáticos, relatórios especializados, estudos sociais e os mais diversos trabalhos académicos e extra-académicos voltados para o debate público das sociedades humanas nos seus dilemas e impasses mais fulcrais para a produção e reprodução do ser social. O Observatório para as Condições de Vida e Trabalho trabalha sobretudo junto de associações, movimentos sociais, ordens profissionais, autarquias, centrais, federações, sindicatos, CTs, ORTs e diversas entidades, institutos e organizações com investigação e ação participante. Aduzimos determinada forma de ciência pública engajada com o mundo do trabalho, a qual não enreda a inevitável busca de objetividade, consistência e rigor em meio a toda a responsividade ético-política e o compromisso valorativo inerentes a tal busca ― por uma adoção ostensiva do que seria uma dada neutralidade moral e político-intelectual. Pelo contrário, procurámos centrar-nos nos liames realmente existentes entre as perturbações privadas e as questões públicas, a partir da centralidade do ser-que-trabalha e do conhecimento de grupos sociais de trabalhadores. A dupla crítica ao positivismo que reifica sujeitos enquanto objetos passivos de estudo e ao pós-modernismo que entifica a agência em aceções solipsistas como a epistemologia do “lugar de fala” representa um ato histórico de superação dialética a partir de uma forma científica específica na medida em que instiga uma maneira própria de formar os seus públicos densos, ativos, visíveis e em contracorrente, o que na maior parte das vezes supõe ainda determinada práxis político-pedagógica. Por oposição e em contracorrente da divisão sociotécnica do trabalho educativo e da sua configuração atual no sistema académico tradicional, reunimos o que o sistema de controlo sociometabólico da educação-superior-para-o-capital tratou de separar: universidade e sociedade, o mundo da cultura e o mundo do trabalho, aprendizagem e investigação, conceção e execução, as mãos e as cabeças. Rejeitamos assim a mercantilização da pesquisa e do ensino, por um lado, e por outro, questionamos o voluntarismo e o diletantismo do trabalho científico não pago.